sábado, 19 de outubro de 2013

Meu antes... e meu depois (que é a presente vida na Dinamarca)

"Oi, só queria dizer que ontem passei tanto tempo lendo seu blog (incrível por sinal, parabéns) e vendo seus vídeos que sonhei que tava numa trip com você uehuehue é isso"

Então eu começo o post de hoje com essa mensagem que recebi agora há pouco. Ela que me motivou a atualizar aqui depois de tanto tempo sem postar nada.

Já passaram dois meses e uns 20 dias que estou aqui na Dinamarca, me acostumando com todas as coisas e sotaques de inglês. Agora que estamos chegando no final de outubro, o dia já está ficando escuro por volta das 19 horas, e a temperatura todos os dias tem sido basicamente entre 6 a 14 graus celcius. Mas tenho um aplicativo no celular que as vezes me diz que a sensação térmica é de 4 graus. Estamos cada vez mais perto dos dias em que teremos apenas 6 horas de claridade por dia, e temperaturas a baixo de zero, com neve diariamente e tudo mais. (Uma amiga que mora há poucos quilômetros daqui, na Noruega, me disse que por lá começou a nevar já ontem, pela noite - sendo que geralmente a neve começa a cair em dezembro)

É fato que eu tenho andado de bicicleta pra cima e pra baixo. Aliás, minto. Aqui não tem "cima" e "baixo", tudo é plano, reto. Foi super de boa me acostumar. Eu andava muito de bicicleta quando criança lá no interior das minhas Montanhosas Gerais (Minas), então aqui o que eu tive que aprender a fazer foi basicamente parar no semáforo vermelho (mesmo se não tiver ninguém e nenhum carro na rua, se vc não para a multa pode ser altíssima - se a polícia te vir) e sinalizar esticando o braço toda vez que eu for parar, dobrar à direita ou dobrar à esquerda. E claro, também tive que aprender a não correr muito quando estou bêbado, pra evitar de estourar os pneus da bicicleta outra vez, já que a maioria das bicicletas aqui (assim como a minha) não são mountain bikes que aguentam tudo que é pulo e batida (como eu estava acostumado). 

Falando em beber, eu tenho bebido muito mais que no Brasil (acho). Tenho me adaptado bem à cultura de sair nos finais de semana para as baladas (que a gente não paga pra entrar), dançar (coisa que antes nunca gostei muito de fazer) e socializar. Sim, socializar. Não falo por mim somente, porque eu já sou super socializável por mim mesmo. Mas é que os dinamarqueses começam a puxar conversa com a gente depois que estão bêbados. No meu caso, pelo menos, já até me pagaram algumas bebidas umas vezes. E isso nos bares comuns (não necessariamente gays). E também costumam vir até mim pra me dizer que eu pareço com o Frodo. Até no meu trampo começaram a me chamar de Frodo agora.

Falando no meu trampo, até hoje não falei que sou gay. E essa semana meus colegas me disseram que começarão a serem mais "mean to me". Eu não sabia o que isso significava, mas o Google me explicou que eles agora vão começar a fazer piadas comigo e sobre mim. E complementaram dizendo que a partir de agora eles começarão a ser mais "normais" (no jeito deles) comigo. Na última empresa que trabalhei no Brasil vivíamos fazendo piadas uns sobre os outros também. Eu acho que agora, eles começando a fazer isso aqui, eu poderei começar a me sentir mais à vontade também. Afinal, até hoje só tenho ficado cada vez mais calado e me isolando, ou seguindo o fluxo natural de me deixar isolar deles. 

Digo fluxo natural porque na empresa meus colegas de trabalho falam dinamarquês entre si. Até mesmo quando a gente sai às vezes pra almoçar em algum restaurante (chefe paga). Depois ainda me perguntam  porquê estou tão calado, como se eu tivesse alguma opção de participar da conversa ou de começar uma nova conversa sendo que o risco de eu estar sendo inconveniente mudando pra um assunto totalmente nada a ver é altíssimo. 

Mas é, eu acredito que as piadas vão ajudar a interagirmos mais uns com os outros, e essa interação também vai me ajudar a aprender a entender o sotaque de alguns dos meus colegas também (meu vocabulário é meio limitado em inglês, e o sotaque de alguns de algumas pessoas as vezes dificultam ainda mais pra eu entender). E apesar de que a Dinamarca é dos países mais cabeça aberta do mundo, eu ando pensando em não dizer que sou gay por agora. Não por agora porque frequentemente eles me fazem perguntas sobre minha vida pessoal (querem saber o que tenho feito nos finais de semana, etc) ao mesmo tempo que eles mesmos nunca falam muito das vidas deles. Não há reciprocidade. Mas por EU ser o novato em meio à toda a diferença cultural e tudo mais, isso é super entendível. Por isso, acho que vou é seguir o conselho da minha irmã e não me expor muito pra eles (ela provavelmente se referia à falar sobre minha sexualidade, quando me aconselhou isso). Dessa forma eu evito ter que possivelmente ficar respondendo sobre minha vida amorosa e sexual também (se tenho conhecido caras, etc e tal).

E aí, bagunçando um pouco o contexto e voltando na parte da barreira linguística, eu também andei pensando sobre a questão de aprender dinamarquês. Quando cheguei aqui eu tava super empolgado com isso. Mas agora, já estou mais devagar. Não tenho estudado em casa nas últimas semanas (e pra aprender uma língua - sobretudo dinamarquês - a gente tem que estudar sozinho com certeza). De fato não é viver aqui que estimula alguém a aprender a língua, já que todo mundo fala inglês e a língua é tão esquisita e sem padrões. 

Eu tenho focado em melhorar meu inglês. E... adivinha. Além da questão de estar dançando quase todo final de semana, eu também adquiri outro novo hábito: ver filmes! Nunca fui de gostar de ficar vendo filmes. E na verdade eu sou péssimo pra acompanhar legendas (a maioria das vezes não consigo). Mas nas duas últimas semanas eu tenho assistido filmes todos os dias. Geralmente filmes em inglês e com legenda em inglês. Tenho assistido pelo Netflix (minha outra irmã tem um login, e me deixa usá-lo), e assim passado várias horas dos meus dias depois do trabalho. É como se eu estivesse compensando por toda a minha vida que não assisti filmes. MAS, claro, tenho dado preferência em assistir os filmes de temática LGBT. Aliás, isso sempre ajuda a gente (que pertence a qualquer outra orientação não-hetero) a ter mais referências e histórias mais a ver com a gente. Porque as bagaças das TVs (no Brasil, até quando eu tava lá) o máximo que faz é mostrar que eu sou afeminado por ser gay, e que eu estou sofrendo por um amor platônico por algum cara masculino e hetero, ou que não é hetero e até vai ficar comigo, mas nunca vai sequer beijar (enquanto os casais heteros já fazem quase que sexo explícito na TV) porque "tem gente que se choca" se ver esse tipo de coisa na TV.

Ainda falando da TV brasileira, eu participei lá de protestos no meio de São Paulo em julho, antes de vir pra cá. E esses protestos continuam até hoje. No meu dia-a-dia aqui eu tenho acompanhado mais noticiários do quê eu acompanhava lá. E procuro ver o que o pessoal publica no Facebook também (tenho ótimos amigos engajados na causa), pra saber o que realmente tá acontecendo (pra não me deixar levar pela mídia mentindo ou enfatizando as coisas menos significantes). Mas aqui as coisas são tão iguais pra todo mundo; corrupção parece não existir; e pessoas que roubam (fora roubo de bicicleta, que parece que nem consideram) basicamente não existem; a ponto de todo mundo confiar muito uns nos outros e deixar pertences em lugares fora de seus campos de vista sem terem medo de serem roubados (que eu fico impressionado com essa falta de medo). Aliás, já andei lendo que essa falta de medo (ou "confiança") que as pessoas têm umas nas outras aqui é um dos principais motivos pelos quais as pessoas que vivem aqui no país são consideradas "as mais felizes do mundo".

Mas é. Agora já virou 1 hora da madrugada por aqui. Já assisti dois filmes hoje e estou terminando minha terceira latinha de cerveja, depois de ter decidido dar uma atualizada aqui no blog.

É muito engraçado como minha vida virou um "antes" (vide mensagem do começo do texto) e um "depois" (a vida sem conhecer ninguém, sem ninguém me conhecer, e sem conseguir ser tão socializável como eu costumava ser, por causa de dificuldades linguísticas). Mas bora lá. Vou tentar dormir porque daqui umas 8 horas estarei acordando (na manhã de sábado) pra ir visitar um castelo com o pessoal da AIESEC (convites ganhos pela "Comunidade" como boas vindas à cidade). Eu sei que esse post poderia ter sido escrito menos embolado, mas o importante é que escrevi algo, né?